OLHAR DE CACIMBO



... porque nenhuma visão é neutra, porque o turvo precisa ser dito, ainda que maldito, antes que se perca em escuridão.










segunda-feira, 28 de junho de 2010

Viagem por angola IV_ de Barra Azul a Dombe grande e Cuio

(Ver: Viagem por Angola III) (Viagem por angola V)

Perdidos em direçao do sul
Barra Azul

Saindo de Barra Azul, passeamos rapidamente por Baia Farta: pequena vila de pescadores , muitas crianças e mamás, varredeiras matinais a limpar o pátio duma igrejinha antiga, algumas cabras e porcos e muito cheiro de peixe secando ao sol.
A caminho do sul, tomamos uma estada sem indicação de onde iria dar. Apenas sabíamos, pela posição do sol, que rumava ao sul.
Quilometros e quilometros de semideserto, montanhas de areia e um asfalto novo e bem demarcado no meio desse poeirento nada.

A cada parada, um imenso silêncio, onde um simples voejar de folha podia ser ouvido como numa caixa acústica.
A estrada seguiu até o municipio de Dombe Grande, indicado por uma pequenina placa. Aí se acabou o asfalto e começou o verde, palmeiras, junco, umas casinhas e... mais pessoas.
Eu com crianças, Dombe Grande

Passada uma grande ponte, sobre um rio sem água que, como nós, estava de férias em tempo do CACIMBO, tirei fotos com crianças e compramos frutas.

Uns 2km dali encontramos um senhor sentado a beira do caminho numa encrusilhada.

Perguntamos qual estrada seguia para o sul, afinal os caminhos já começavam a estar cheios de capim e ao que nos parecia não passava aí carro há muito tempo.
_ como? diz o senhor, desconcentrado do tempo de agora.
_ O sul, repito eu pausadamente e com o L bem pronunciado como é comum por aqui.
_ O suro? grita o homem _ Sim, sim.
_ É para lá? insisto eu, apontando a direção.
_Sim sim, o suro.

Se se chamava Suro realmente nunca chegamos a saber. O único que encontramos 1 km dali foi uma pequena vila (aldeia ou comuna) que, como muitas, trazia o pátio bem varrido, algumas cabras, porcos, crianças e poucos adultos a nos olhar indagativos.

O caminho não seguia, portanto voltamos e tomamos o outro, fomos até uma nova encrusilhada,  que pela indicação do sol nos levaria mais próximo da costa e, possivelmente, ao sul.

Seguimos uma estrada de chão mal acabada, com subidas e descidas e trilhos difíceis, entre montes e  montanhas de terra (areia branca) e alguns paredões de rocha. Andamos por umas 2 horas, já eram quase 15h quando chegarmos a uma pequena aldeia a beira mar, que supomos se tratar de CUIO, conforme vimos numa placa indicativa.
Caminho para Cuio

As crianças vieram rapidamente nos encontrar. Na beira do mar uma velha canoa abandonada e mais de 20 crianças a nos rodear e  nos tocar.

Crianças de Aldeia, CUIO

A aldeia ficava depois de grandes montanhas. Antes de decidir voltar paramos nessa aldeia, e perguntamos aos adultos se ali era CUIO. Eles respondiam: _Sim, sim, e apontavam na direção que seguia. Cuio é por aqui.
Aldeia, supostamente Cuio

Aldeia, supostamente Cuio.

Ciclista da aldeia, me encantou este senhor.

Decidimos voltar, porque a estrada não parecia ir mais além que a proxima aldeia. (Cuio ou outra, quem sabe?)

Conseguimos tomar a outra rota, agora supostamente na direção de Namibe, ainda ao sul.

Mas a aventura parecia nãos nos querer definir caminho certo. Por toda tarde ainda continuaríamos perdidos...

(Ver proxima postagem)

sábado, 12 de junho de 2010

VIGEM POR ANGOLA III _ LOBITO, BENGUELA, BARRA AZUL

A Viagem continuou tranquila. (ver: Viagen por Angola II) (Viagem por Angola IV)
Saimos de Sumbe antes mesmo do Sol se Pôr, sempre na direção do Sul.
Os preços dos Hotéis e complexos à beira mar no Sumbe conseguiam ser mais caros que em Porto Amboím e pensávamos atingir LOBITO naquele dia mesmo.  A estrada estava boa e, apesar do calor, a paisagem nos agradava.


Obviamente a noite nos pegou no meio do caminho e resolvemos parar e dormir na praia, entre a estrada e o Mar.

Acampamos livremente, tomamos banho de mar e diferentemente do que dizem acerca de Angola, não sentimos nenhuma insegurança. Ninguem apareceu nos incomodar, nem pessoas nem animais e hoje realmente sabemos que não perigo.


Pela manha descobrimos que estávamos numa praia Lindíssima, com várias pequenas lagoas muito proximas e uma vila de pescadores muito perto. Quando chegamos a noite, provavelmente estavam todos dormindo.



Veio até nós apenas para saudar, um menino chamado Catiu, que estava ali para cuidar dumas cabras.

Tímido, trocou algumas palavras conosco, disse que vivia ali com o tio e que gostava de pescar. Que a mae vivia no Lobito e que já se ia.

Atingimos Lobito por volta da hora do Almoço. O sol era infernal, a poeira da estrada não permitia ver muito. A cidade estava toda em obras. Na beira da estra haviam trilhos de trem e aí: um longo cordão de gente a vender comida e artigos secos e molhados em meio ao lixo, à poeira, às crianças e aos animais domésticos.
A agressividade da cena urbana africana nos sugou novamente, em oposição ao paraíso natural em que tínhamos passado a noite. Quase corremos de volta.



O centro da cidade já parecia menos caótico, paramos na praça central em frente a uma espécie de shopping, donde na parte de cima encontramos lanchonete (em bom estado de higiene) e banheiros publicos. Almoçamos aí, algum sanduíche com coca-cola e logo partimos.

Sem fotos do centro por motivos óbvios, Angolano (no geral) não permite fotografias.

Na saída da cidade um engarrafamento por conta da ponte nova, que somente soubemos pelo jornal que uns 2 meses depois fora aberta por completo.

Atingimos Bengela neste dia mesmo. Uma cidade aparentemente menos caótica (que Lobito) e com uma magnífica Orla de edificação colonial, Restaurantes, hotéis e edificios públicos a beira mar,

um lindíssimo pôr do sol, um olhar atentíssimo à exuberância do deitar-se do sol no horizonte maritimo e um tropeção numa raiz escondida na areia da praia. Um monte de sangue jorrado num de nossos pés e um naco de dedo que ficou por aí mesmo na raíz. ...

UMA ATENDENTE DE FARMÁCIA MAL-HUMORADÍSSIMA (DEPOIS DE TRES FARMACIAS FREQUENTADAS) QUE CONSEGUE VENDER UM PACOTE DE CURATIVOS, UM ROLO DE ESPARADRAPOS E UM VIDRO DE ESTERELIZANTE A BASE DE IODO E UMA POMADA ANTI-INFECÇÃO.

De Benguela ainda visualizamos o estádio novo de futebol na saída da cidade que estava quase pronto para o CAN (que ira começar dali uns meses).

Passamos a noite (em acampamento novamente) numa pequena praia uns 50 km dali chamada Barra Azul (ou Baia Azul_ Bem perto de um outro lugar chamado Baía Farta).

Lugar encantador, de mar calmo, pois é uma entrada em meio a duas montanhas, e a cidadezinha é desabitadas nesta época do ano. Casas para tempo de ferias e veraneio (imagino)

 nosso carro e o quioske da praça.

FATO INUSITADO: Nos sentimos numa cidade fantasma. No meio da praça central, à beira do mar, um grande quiosque coberto e uma pedra fundamental com miradouro para o mar. As casas todas fechadas e nas garagens barcos a motor e jets-skis. 
Conforme foi caindo a noite ouvimos algumas vozes e vimos algumas pequenas fogueiras, assim como ouvimos o som do rádio de alguns guardas.

A noite passeamos um pouco (um de nós com um grande curativo no dedo do pé), para interagir com os habitantes, e percebemos um ponto de luz e de som no meio do nada das casas fechadas e da fantasmagorice da cidade. Tratava-se de uma TELEVISÃO de umas 20 polgadas que aglomeravam cerga de 20 ou 30 pessoas em frente dela, a maioria jovens e crianças. 
Passamos, olhamos, e ninguem falou conosco, o espetáculo estava na tela.

domingo, 30 de maio de 2010

VIAGEM POR ANGOLA II_ SUMBE

Depois da noticia...a viagem CONTINUA  (Viagem por Angola I) (Viagem por Angola III)




De PORTO AMBOIM partimos, sempre em direção ao Sul.

Depois de uma hora e pouco de estrada e de paisagem quente, cuja visão nos configurava cactus, baobás sem folhas, arvores secas e muitas aldeias: com as sempre casinhas de adobe, de cor igual a da terra e cobertas habilidosamente de palha trançada e raras vezes com zinco, EIS que nos surge uma gigantesca descida em forma de alguns Ss (esses), cujas bordas se acumulavam em maior concentração as tais casinhas que, conforme descíamos começavam a mesclar-se com casas de alvenaria de antiga arquitetura portuguesa, chegávamos em SUMBE: Capital do KUANZA SUL.
Terminada a descida e atingida a borda do mar, as casas portuguesas (com certeza) aumentavam em quantidade, inclusive predios públicos lindamente restaurados emparelhados às novas contruções, modernas a canteiros de obras e obreiros estrangeiros (como se percebe em toda Angola, sejam potugas, chinos, ou brazucas)

Na orla da praia, as mesmas palmeiras de Porto Amboim, (de Fortaleza, de Salvador e de muitas praias do Brasil), alguns hotéis, restaurantes e complexos turísticos. Mai no alto uma catedral, restaurada e imponente.

Um grupo de escoteiros Angolanos em visita a região. De meias altas e lencinho no percoço, um dos adultos guia da expedição nos convida a uma foto. Simpaticamente tiramos a foto e antes mesmo que pudéssemos pedir seu endereço ou  lhe perguntássemos qualquer coisas, ele agradece e volta ao grupo de alunos.

Me agrada pensar, que nosso retrato está em algum lugar de Angola, soridentes ao lado desse senhor que sequer conseguimos saber o nome. Me agrada inclusive pensar em quantas historias poderá ele ter criado para o retrato.


Escolhemos uma das ladeiras que liga a cidade (povo) e a margem do mar (ricos restaurantes e hotéis) para um breack fast, numa sombra em meio a uma praça composta de canteiros de jardins, onde tambem descansavam alguns escoteiros. O nome da praça era delicado e simpatico e aparecia impresso numa placa de madeira que não haviamos percebido antes: Parque dos namorados

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Morre o guardinha, colega do Sozinho...

A viagem continua... mas antes uma notícia de ultima hora.

O SOZINHO FICOU AINDA MAIS SÓ.

Seu companheiro, também quarda, que aparece na foto da postagem do dia 30 de março, MORREU.

Não foi de Paludismo, mas de acidente de moto.
Pobre rapaz, com menos de 20 anos passou dessa pra melhor.

Ainda bem que nem deu tempo de deixar descendentes.
Ainda bem que foi feliz
Ainda bem que morreu logo,
Degolado
Ainda bem que tinha almoçado,
atravessou sem fome, coitado
Obviamente, tambem foi sem capacete e embriagado
Mas Deus há de ser bom e o receberá de bom grado.
Se não entrar pela porta da frente,
há de haver no céu cota para afro-descendente
E se ainda não tiver deveriam logo inventar,
afinal o que se paga na terra por nascer em Africa,
não poderia deixar de ser recompensado

PS:      *             (um minuto de silêncio ao pobre rapaz )

terça-feira, 27 de abril de 2010

VIAGEM POR ANGOLA I _ PORTO AMBOIM

LINKS: (Viagem por Angola II)
Ja faz quase um ano que nos dispomos a uma viagem (aventureira) de carro pelo litoral de Angola.
Começamos no dia 25 de agosto de 2009.
Sem lenço, algum documento e nenhum mapa partimos de Luanda ali pelas 15 horas sempre em direção Sul.
Nossa equipe de apenas nós dois, meu companheiro e eu. Nosso carro, o de sempre, com tração nas 4 rodas, mas sem nenhuma vantagem adicional, para aventuras africanas. De reserva tínhamos apenas água, banana, uma lata de sardinha e uma roda de estepe.

Pertinho de Luanda, uns 30 km depois de sairmos dos engarrafamentos, depois da subida do campo de golf, apenas uma pequeninha placa indica: MIRADOURO DA LUA.
A pequeníssimas escritura foi percebida por algum de nossos olhos atentos e a surpresa foi tamanha, quando aos olhos foi posta uma paisagem composta de um belíssimo vale composto de montanhas pontiagudas, cujas camadas do solo, de formações arenosa e coloridas mostravam as marcas de erosão atapetando-se até o oceano, ao longe no horizonte. Lá, o mar, de um azul colossal quase encontando-se ao céu, de um cinza moderno, esses que só viam-se nos quadros depois do século XIX.

Minutos de estupefação diante de tamanha beleza natural e percebemos que a noite começava a chegar e que o sol, apesar de não poder ser visto por causa do cacimbo, já caia no ocidente. Começava um ventinho (o tal friu angolano) e o entardecer que aos poucos era engolido pela noite.


Apressamo-nos e na continuação ainda conseguimos ver o encontro do rio Kuanza com o mar, na altura da nova e moderna ponte. (aquela com as lombadas gigantescas antes e depois dela.)

Daí em diante viajamos mais 2 horas na mais profunda escuridão, assegurados pela boa estrutura da estrata, recém feita, ainda que sem sinalização. As vezes encontrávamos alguns bois ou cabras no meio da estrada e com cuidado continuamos até um emaranhado de luzes e casa que mais tarde nos informaram ser PORTO AMBOIM.

Antigo porto português, hoje levemente explorado pelo turismo, o pequeno centro da cidade comporta casas coloniais e antigos armazéns portuários. Mais distante do mar, em direção à estrada de passagem para o sul há alguns bairros "populares" com casas de adobe amarelas da mesma cor do solo, construídas na montanha e rodeadas sobretudo por cabras, crianças e porcos.

Permanecemos um dia na cidade. Desfrutamos do delicioso mar calmo de aguas verdes cristalinas e de saborosas frutas compradas de um pequeno vendedor. Um menino que vendia peras e maçãs entre os carros na bomba de combustível. O nome dele já esqueci, mas a carinha de vendedor dedicado jamais esquecerei.

Seguimos viagem ... contarei amanhã ,ou depois. Deixo aqui umas fotos de Porto Amboim.

PS: Vale muito a pena conhecer. Inclusive pelas singelas pelas contradições. Digo singelas, porque realmente todos convivem muito bem. Diferentemente de Luanda e outros sitios de Angola que visitei.

terça-feira, 30 de março de 2010

O Sr. Guarda que se chamava "Sozinho"

Sozinho e seu companheiro. 

Fotografia: Eu.
Postura e local escolhido para foto: Sozinho.
Cenario: Natureza maravilhosa e espetacular (apesar de quente) angolana.

terça-feira, 23 de março de 2010

Skinheads em Angola

Em 2 episódios:

Episodio 1

Tarde ensolaradíssima e aquecidíssima de quinta-feira em Caxito. 30 graus de temperatura e 70 por cento de umidade no ar. Sensação de sauna e sentimento de sede de chuva e de noite, pois quando o sol se vai já não consegue aquecer este vapor que emerge das entranhas da terra arenosa.

Na escola, (a qual estou ligada oficialmente por trabalho formal e que nunca falei aqui ainda por motivos de “ética profissional”) 4 ou 5 jovens alunos são expulsos da sala pelo professor. Dirigidos à sala da direção, para aí serem melhor orientados, explicam a causa da explusão:

Trazem os cabelos mal dispostos, bagunçados, e compridos demais.

Descrição dos Alunos: Jovens negros, de idade entre 17 e 20 anos, e nenhum deles com cabelo maior que 1cm e meio de cabelo crescido para além da cabeça.

OBSERAVAÇÃO: A escola não contém nenhuma regra oficial sobre roupa, cabelo, etc, além de um bata branca que os alunos utilizam no interior do recinto. Toda exigência partiu particularmente do professor que reproduz a cultura local, sobretudo a cultura do partido (o do presidente , “socialista”, e que todos que pretendem ou têm algo na vida integram).

Episodio 2

Fim da tarde de sexta-feira, já quase sem sol e com um pouco de vento. A sensação de sauna já se foi e o sentimento de liberdade para respirar toma o peito. Já não há aulas na escola e o Sr. guarda senta-se, ali mesmo no pátio, para fazer sua toilette. Com uma bacia d’água e uma navalha (gillete) diretamente manipulada com a mão (sem qualquer aparelho barbeador) executa sua tarefa de eliminação dos pelos.

Raspa, igualmente, a barba, toda a superfície da cabeça e as sobrancelhas.

OBSERAVAÇÃO: O Sr. Guarda se chama Sozinho (de nome oficial no bilhete de identidade), pois quando nasceu morreu-lhe a mãe. Quem se encarregou dele deu-lhe o nome e a sentença. Soldado sobrevivente da guerra, hoje resta-lhe a profissão de guarda. Trabalha para uma empresa de segurança privada o ano inteiro, sem férias. Vive uma semana no local do trabalho (atualmente na escola) e a cada 15 dias ganha uns dias de folga, os quais passa em casa em Luanda com a família que formou.

domingo, 21 de março de 2010

Alfabetização em Angola FOTOs

Desde que cheguei a CAXITO, ficou muito mais dificil postar e tambem carregar fotos, pois a conexão à internet aqui é muito ruim. Porém hoje consegui postar duas imagens.

Uma é a da Alfabetizaçao de adultos que faz a Irmã. Ja contei a historia toda no dia 22 de fevereiro.

 
A outra foto é das crianças, meus ouvidores de historias. Esse dia foi o dia do Chapeuzinho Vermelho. Era o dia de aprender as cores e teve desenho, que obviamente levaram para casa para pintar (os que dispuserem de lapis de cor)

quarta-feira, 17 de março de 2010

Mulher em Angola

Para não dizer que não falei das flores:

Fiquei com peso na consciência pelo post anterior, diante da possibilidade das más interpretações e pensei em pintar melhor esse quadro, ainda que sejam pinceladas frente a um céu de cacimbo.

__A nova constituição angolana, aprovada este ano, assegura 50 por cento das vagas do congresso para mulheres.

_Há muitas mulheres ocupando cargos públicos e privados de importância elevada em Angola.

_As mulheres estrangeiras (brancas) em Luanda são muito assediadas, porém sempre muito respeitadas.

_Todas as mulheres são as chamadas "mamás" ou "mãe". Em Luanda as estrangeiras são "madrinha".

Entre a população em geral (o povo mesmo)

 _ As mamás têm obrigação de ter filhos. Geralmente um por ano, conforme a natureza determina. Uma mulher se torna mamá também quando a natureza a deixa apta, ou seja, logo na puberdade.

_ Em geral, as mamás são respeitadas quando falam. O critério do respeito depende da idade, quanto mais velhas, mais respeitadas.
(obviamente isso não se pode generalizar, depende do histórico e da postura da tal mamá na comunidade ou bairro. Há algumas que são mais respeitadas que certos homens).

_As mamás são primeiras, segundas, terceiras, ou até quartas esposas de certos fulanos. Elas se orgulham de sua classificação e dos filhos que deram ao tal.

_Nas comunas (aldeias) a convivência entre as esposas é mais comunitária, enquanto nos bairros da capital é velada (ou escondida). *Atualmente as igrejas cristãs tem interferido muito nesses hábitos, especialmente na grande capital.

_ A responsabilidade com os filhos são das mamás. Responsabilidades da natureza, amamentação, carregar enquanto não chega o proximoomida enquanto não são capazes de se sustentar, ou seja, antes da puberdade. Umas com as outras, as crianças se criam (vale até o trocadilho).

_ As mamás carregam quase tudo nas bacias na cabeças e passam o dia a perambular (fazendo qualquer coisa, como vender nos grandes mercados publicos ao ar livre, lavar roupas, encontrar alimentos e trocar, etc, etc, etc) a fim de ganhar, literalmente, o pão de cada dia.

_ Todo dia logo cedo, por volta das 9 ou 10 da manhã, eu vejo muitas mamás a beber cerveja, no bico da garrafa mesmo. É a hora da conversa de cada dia, do depois de algumas tarefas matinais já realizadas.(em geral a tarefa de varrer, em Angola varre-se muito)

*estranhamente varre-se com vassouras sem cabo; estranhamente aqui vê-se primeiro as mulheres pela bacia que carregam na cabeça ou pela bunda, colorida por pano africano e virada para cima para varrer; estranhamente varrem folhas, capim e papel, mas respeitam a permanencia de latas e garrafas plástica no chão, as vezes apenas chegam a afastá-las para um canto mais reservado.

_ Mais tarde ninguem mais varre, mas ainda carrega-se coisas na cabeça e bebe-se cerveja. Isso faz-se qualquer hora do dia. Os homen tambem bebem muita cerveja.

ENFIM, As mamás não usam burca, não são apedrejadas se trairem maridos, vivem entre muitas outras mulheres e crianças, e (penso que)  afinal eu sofro mais com o machismo na vida delas do que elas próprias.


Eis um dos probelmas na Angola, e talvez em África, deprender-nos das visões colonizadoras.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Dia de feitiço

8 de Março_ Dia internacional da mulher *

Sr. G., motorista, angolano, de idade entre 25 e 35 anos, tece seus bem humorados e eloquentes elogios às mulheres. Segundo ele, elas são flores de um jardim do qual ele se julga um bom jardineiro.

Depois de inumeras voltas poéticas e informações que me dà sobre o casamento em Angola (onde é comum os homens terem mais de uma esposa)  faz referéncia ao dia internacional da mulher e eu, então, lhe pergunto se ele sabe porque se comemora tal dia.

Ele confessa que não sabe. E eu assumo a responsabilidade de lhe contar o motivo. Conto resumidamente sobre a luta das operarias dos Estados Unidos e Europa poe direitos iguais e no final ouso pronunciar uma frase mais engajada: "graças a essas manifestações hoje as mulheres tem direito iguais aos dos homens".

Ele responde:
_ Madame. A senhora vai me deculpar, mas essa coisa de igualdade entre mulher e homen, eu não concordo.(E continua) Mete uma mulhar ai a carregar peso, não dà, o homen é mais forte.

Eu expliquei que não era dizer que eram iguais, mas que tem direitos iguais. E dei um exemplo. De que se ambos trabalham tem o direito de receber o mesmo. Do mesmo jeito que ambos tem responsabilidades iguais pelos filhos e pela casa e não apenas a mulher.

Ele argumentou: (reproduzo mais ou menos suas palavraq)
_ Se trabalha a mulher tem que ganhar bem, ta certo. Mas essa coisa de repartir as coisas da casa, madame, isso não ta certo. A casa precisa de ordem, o homen tem que botar ordem na mulher e nos miudos (crianças) senão dà maka (problema). quando eu chego em casa eu boto ordem. Se fica produto quimico assim no chão é perigo pros miudos, eu tenho que mandar guardar, se eu nao meto ordem fica uma bagunça.

Eu ainda tentei:
_Mas se o senhor e a sua mulher trabalham o dia todo, o sonhor acha certo somente ela cuidar das crinças e da casa e da comida enquanto o senhor so manda?

Sem hesitar:

_ Pois sim!
(continuou) Madame, se eu ajudo, boto a mesa, faço a comida, qualquer coisa, depois meu vizinho fica a saber e ja sai a conversa de que eu to enfeitiçado. Homem assim é conhecido como homem enfeitiçado pela mulher madame.

Salve o feitiço das flores.


*Postagem atrasada porque em Caxito a internet as vezes fica dias sem funcionar.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A arte de levar tudo na cabeça.

Emabaixo duma Grande Arvore de Acacia, là pelas quase 5 da tarde,  a vendedora de comida começa a recolher sua tenda. Chega ao fim o dia de trabalho e os alimentos ja são poucos. Parece que restam apenas uns bolos fritos envoltos em açu'car.

Junto com a mãe, estão 4 pequenas crianças, dois meninos, uma menina e um bebé.  A menina é a do meio, e assim como os outros auxilia no recolhimento dos materiais.

Habilidosa, primeiro a mulher amarra o bebé às costas, depois vira a pequena mesa de madeira deixando-a de pernas para o ar e põe tudo (bacia, panos etc) no centro da mesa invertida. Ajeita um pano na base da cabeça e logo levantarà a enorme bagagem sobre ela.

Antes de o fazer, porém, a filha se aproxima da mãe sorridente, jà com o seu proprio pano enrolalo e volteado em forma de ci'rculo para que a mãe lhe ajeite uma lata (dessas de leite Ninho de 5 litros) na cabeça. Com não mais que 7 anos de idade, a criança arruma a postura das coisas para que a lata não caia e sai vaidosa desfilando a atitude.

A mãe então ergue a mesa na cabeça e se vai, seguida pelos filhos. Todos naquele andar de formigas, como eu gosto de chamar, um pouco errantes, mas com passos firmes e uma gigantesca bagagem na cabeça.

O menino, um pouco maior, carrega numa mão um balde de açucar e na outra mão um pequeno banco de plastico. Ele pàra vàrias vezes porque a tampa do balde abre, então precisa largar o banco e usar a outra mão para fechar.

A criança pequenina, parece ter uns 2 ou 3 anos de idade e não ter a incumbencia de carregar nada. Porém encontra uma pequena garrafa d'àgua vazia (de 500 ml) e, como a mãe e a irmã, põe na cabeça e segue o grupo mais feliz agora.

O irmão, que sofre com o balde de açucar, percebe as vontades do pequeno e então lhe ajeita o banco de plàstico àa cabeça, invertido como a mesa que carrega a mãe.

A mãe, pacienciosa, parou uns minutos e esperou os filhos se ajeitarem e depois seguiram.

Assim seguem. Assim é.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Alfabetizaçao de adultos em Angola

Perto da minha nova morada tem um bairro popular. Muitas casinhas de adobe da mesma cor do chão, cobertas com zinco, e muitas crianças e mulheres que andam com bacias na cabeça.

Há ali uma antiga capela portuguesa, deteriorada pelo tempo, por alguns combates e pelo uso, pois no bairro não há quase nada, mas não falta fé.

É nessa capela que uma freira missionária dá aulas de alfabetizaçao para adultos. 3 vezes por semana, por volta das 4 da tarde, ela caminha sob o sol, cumprimentando todos que encontra pelo caminho com seus livros e lapis pronta para se tornar a professora.

A capela não tem bancos nem mesas. As pessoas sentam no chão ou em cadeiras plásticas que elas mesmas trazem e escrevem sobre umas tabuetas que a irmã empresta.  O quadro fica guardado na casa de uma das alunas e é pendurado e retirado da parede a cada aula.

Os alunos são mães com crianças à tiracolo que vêm aprender a ler e escrever e tambem aproveitam das brincadeiras que a irmã propõe no intervalo de cada atividade. Quando a brincadeira é cantada, essas mulheres projetam suas vozes para além das frestas da capela e se fazem ouvir no pátio.

No pátio ficam os filhos que já não precisam ser levados nos braços a brincar com outras crianças das redondezas. Destes, nem todos vão à escola e dos que vão muitos deles ainda não aprenderam a ler, ou distinguir as cores, ou sequer sabem seus nomes completos.

EU, encantada pelas criancinhas e impulsinada pela irmã, que muito humildemente me convidou a fazer alguma atividade com os infantes, comecei a dar-lhes "aulas".

Logo no primeiro dia (quando apenas lhes ofereci o desenho de uma flor para pintar) percebi que não podia fazer muito. São muitas crianças, tem idades e níveis escolares muito distintos, não há classes ou cadeiras, ou sequer tijolos para sentar e o sol na cabeça é muito forte. Uma das alunas da irmã, a Vó Verónica ofereceu a sombra de bamboo e palha do pequeno patior cercado se sua casa para as aulas o que ajudou, mesmo assim algumas crinças acabam ficando ao sol, pois a cobertura é pequenina.

O que resolvi então, e o faço agora, é ir uma vez por semana até lá contar histórinhas infantis, l por semana. A mais mostro-lhes algumas palavras, números, desenhos e fotos de animais e detalhes do que conto.

Primeira historinha foi OS 3 PORQUINHOS, já que aqui há tantos porcos, já que é um clássico dos contos infantis, já que assim aprendem os números e a contar até 3 ao menos.

Semana que vem será CHAPEUZINHO VERMELHO, já que há tanto sol, já que muitas usam lenços coloridos na cabeça, já que a maioria das crianças não sabe distinguir as cores.

O lobo das minhas histórias não é o LOBO MAU, é só um lobo, que tambem será conhecido a partir de livros de biologia na proxima aula. O lobo das minhas histórias só persegue porque tem fome, e tambem nunca morre, só foge assustado. A moral das minhas histórias é sempre a mesma: Pra ler essas historias através dos livros é preciso ir à escola.

Eu só espero que Angola tenha escolas pra todas essas crianças (afinal dinheiro não é problema, como sabemos, Angola é um país financeiramente privilegiado em África)

O MAIS IMPRESSIONANTE é que no meio da contaçao, percebi que não só as crianças de dentro do pátio tinham vindo ouvir, havia um senhor que mudou a cadeira pra mais perto da cerca pra ouvir tambem. Do outro lado, mais umas jovens tambem se aproximaram. 

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Formigas Infantes


Ja faz uns dias que estou em CAXITO, capital do Bengo, como falei na postagem anterior.

Aqui o dia amanhece muito cedo. É como se o sol crinça despertasse agitado e animado e depois, ali pelas 7 horas da tarde, jà cansado de tão intensas brincadeiras, se deixasse completamente adormecer, embalado pelo vento que ruma do mar e começa chegar por aqui por volta das 4 da tarde.


Assim como o sol, me desperto cedo e me deito quando os grilos começam a cantar sob o telhado. Hoje, por volta das 9 horas da manhã, o sol jà começava arder na pele e eu acordada a pelo menos umas 3 horas, chegaram de Luanda os rapazes da empresa de manutenção. Vieram arrumar a ducha e trazer um pequeno fogão, para que possamos cozinhar mais à nossa maneira e aos nossos horarios.

Perto das 10 horas foram embora e deixaram na lixeira, aos fundos da casa, a caixa do fogao, a ducha velha, e os pedaços de plastico, isopor, canos e tubos que restaram do tabalho.

5 minutos depois ouço um barulho nos fundos. Saio no portão e vejo umas 7 ou 8 crianças (de 5 a 9 anos de idade) a remecherer o lixo numa verdadeira descoberta. Quando me vêem algumas correm, outras apenas param de mecher sem soltar o que têm nas mãos e ficam a me olhar.

Eu, tão criança quanto aqueles 7 ou 8 pares de olhinhos dirigidos a mim não sei o que fazer nem o que dizer. Acabo por autorizar a retirada do que quizerem, e que deixem o resto dentro da lixeira e não no chão.

Ainda sem me dar conta de muita coisa, percebo que abri um diálogo e a partir de então a cada pedaço de plastico, papel ou resto de cano, que retiram da lata me olham e perguntam:

_Amigo! Posso pegar esse? E esse?

_Amigo! Amanhã tu compa uma bolassa pa mim?

_Amigo! Amanhã tu compa #'%$£è@' pa mim? (não entendo)


Limito-me a dizer: _Amanhã.

Depois lhes explico que não sou amigO, sou amigA, porque sou menina. Aprendem rápido, fazem mais uma meia duzia de perguntas, me chamando de amiga e como a lixeira já esta vazia vão se afastando.

O grupo das meninas pega a caixa maior, do fogão. Como formigas, meia duzia de crianças com uma enorme caixa de papelão na cabeça e mais umas 3 ou 4 correndo atrás, saem todas cantando em coro

_Ah amiga é boa. Ah amiga é boa...

2 minutos depois um dos enfantes aparece no portão e pergunta se não tem mais.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Visita do Sr. Presidente

Me mudei de Luanda  há 4 dias. Vivo agora em Caxito, Capital do Reino do Bengo.

Bengo nao é um reino e sim uma provincia, mas a frase me lembra outra dum conto do Machado de Assis: O segredo do bonzo. A historia se passa na cidade de Fuchéu, capital do reino de Bungo. Penso que o tal bonzo do conto bem que  poderia morar por aqui, e os seus discipulos (os pomadistas) seriam integrantes do partido. * (clique BAIXAR o conto)

Hoje o Presidente da República erá visitar o pequeno Reino. Vem para a Inauguração de um centro politécnico, chega por volta da 9horas da manhã. Desde ontem as ordens superiores são para que todos os alunos, funcionários e professores das escolas do município se dirijam ao local do encontro a partir das 7h da manhã.

Ontem pela manha já começavam os preparativos. Durante a noite foi providenciada uma chuva (por forças da natureza que tambem devem ser comunistas) para que a cidade amanhecesse lavada.
Perto das 8:30 da manhã, quando passamos pela rota que vai do pequeno vilarejo de Açucareira, onde fica a sede do governo do Bengo, até a cidade de Caxito, capital da Província, quase não conseguiamos acreditar no que víamos.

Surgidos não se sabe ao certo donde, a cada 2 metros havia um aglomerado de pessoas a limpar a beira do caminho. Eram 10 km de gente, que a fação e enchada, formigas e cigarras, estavam todas em trabalho e em conjunto. Na rua em frente ao Gabinete do Governo, dezenas de mulheres a lavar o asfalto, a raspar o barro. Um caminhão  se encarregava de esguichar água. Outros grupos expalhavam pedras no pátio de uma escola. Na frente doutra escola uma retro-escavadeira tapava um buraco ancião.

À tarde, por volta das 16 horas, quando voltamos a fazer a rota, ficamos impressionados com as mudanças ocorridas. Era possivel ver detalhes da paisagem, inclusive certas estruturas como muros e calçadas, antes completamente escondidas pelo mato e pela terra.

Na beira da estrada o movimento de um rato seria perceptível dado a clarida resultante do trabalho de limpeza.

Seja bem vindo Sr. Presidente.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

4 de fevereiro

Feriado em Angola

04 de fevereiro de 961 começou a Guerra Colonial pela independencia de Angola. Demorou até 25 de abril de 1974. Hoje dois feriados nacionais de Angola. Depois teve mais guerra aqui em Angola, até 2002. Dentre tantas batalhas, muitos soldados portugueses passaram por aqui, alguns perderam a vida nessas terras.

Dos sobreviventes, alguns ainda vivem hoje. Um dele é o Sr. M.R. Um senhorzinho portugues que atuou pelas forças armadas portuguesas e passou muitos dias numa pequena aldeia angolana chamada Quimaria, na pronvincia de Uige -norte de Angola- e que em todos os seus anos de vida jamais esqueceu da pequena vila africana, ensolarada e de ruas poeirentas.

Uns 30 anos depois, o Sr. M. R. encontrou referencia à cidadezinha no Blog As Viagens de Alex, um outro aventureiro que gosta de escrever suas experiencias na Africa.

Emocionado, Sr. M.R. pediu ajuda ao blogueiro para retomar o contato com a comunidade. O Sr. M.R. esta para receber uma aposentadoria por ter lutado na batalha. Porem ele considera que esse dinheiro deve ser encaminhado às crianças de Quimaria.

Serão 140 Euros por mes. Como o Alex muito bem descreveu no blog, dificil seria encontrar critérios para escolher o beneficiàrio, ja que todas as crianças da localidade necessitam tanto. Para evitar que a doação se devie pelo caminho, decidiram doar o dinheiro para a escola de Quimaria e a professora comprarà material escolar para as crianças.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Ser ou não ser? (Pedra)

Hoje achei uma pérola, (ou melhor, uma pedra) no blog da minha amiga Gi
e fiquei pensando "cã cux meux butoex", como dizem os portugueses, sobre o embrutecimento da vida.
 
 Colo o poema. E não digo mais nada


 A educação pela pedra
                                                João Cabral de Melo Neto

Uma educação pela pedra: por lições;
para aprender da pedra, frequentá-la;
captar sua voz ininfática, impessoal
(pela dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
ao que flui e a fluir, a ser maleada;
a de poética, sua carnadura completa;
a de economia, seu adensar-se compacta:
lições da pedra (de fora para dentro,
cartilha muda), para quem soletrá-la.

Outra educação pela pedra: no Sertão
(de dentro para fora, e pré-didatica).
No Sertão a pedra não sabe lecionar.
e, se lecionasse, não ensinaria nada;
lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
uma pedra de nascença, entranha a alma.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Viver em Luanda

6 meses depois

Viver em Luanda nao é nada fácil, isso eu já disse e parece estar bem claro nas minhas postagens anteriores. O segredo é que é preciso esforço e algum «rebolado» para se safar nesta cidade. E no final o que era ruim, já não parecerá tanto.

Resumidamente: A cidade é enorme, cheia de habitantes e não há estrutura alguma para tal. Estão construindo em todos os cantos da cidade (estradas, pontes, edificios, ...) o que torna certos trajetos caóticos e as vezes impossiveis. Quando chove, e ainda bem que chove pouco, muitos locais ficam alagados ou cheios de lama e desencadeia mais caos. Há locais privelegiados, com água, luz e um pouco de limpeza, assim como estabelecimentos comerciais higienizados. Consequentemente eles custam exessivamente caros por constituirem um privilégio que poucos podem acessar. Como todos precisam de certas coisas (roupas, alimentos, eletronicos, automoveis, peças...) e o acesso legal a tal não é possivel dentro da estrutura existente, há, paralelamente, um mercado imenso e eficaz. Coisa que só descobrimos com o tempo e que para acessar é melhor contar com a ajuda de um nativo. Porem, contrariamente ao que se poderia pensar, não há violência ou bandos (gungs) delinquentes organizados.

Retrato em detalhes: não ha abstecimento de água, luz e esgoto a toda a populacão. Mas é possivel comprar, há prestadoras particulares de energia que oferecem isso em certos bairros onde a rede pública não chega. Tambem há geradores de energia à venda em muitas lojas e o combustível é barato. Porém há filas nas bombas de combustivel. Não há transporte público rápido e eficiente e as ruas são esburacadas e engarrafadas. O transporte pelas vans (candongueiro) não costuma ser seguro, os carros são velhos e os motoristas não cumprem leis de segurança e velocidade. Os ônibus são poucos, demorados, mas mais baratos. Os engarrafamentos são diários e intermináveis. Carro próprio se torna a melhor forma de locomoção (tambem é sinal de status social, ja que o mínimo aqui é muito). Não há muitas lojas e lanchonetes com condições sanitárias regulares, o que obriga a população a comer na rua os alimentos ali confeccionados sem higiene, muitas vezes feito em meio a galinhas, porcos e, especialmente, resíduos sólidos e líquidos esverdeados e fétidos que escorrem pelo chão. Há restaurantes e lanchonetes (caríssimas) apenas em certas regiões da cidade. A coleta de lixo não funciona eficientemente e nos musseques e bairros pobres, a própria populaçao escolhe um terreno e ali deposita seus resíduos: em valas (antigos rios) , beira de estradas e barrancos. Não há consciência anbiental e é comum as ruas e praias conter lixo, inclusive cacos de vidro deixados pelos banhistas. Tambem não há lixeiras na praia, nem mesmo na Ilha do cabo, considerada turística e cheia de restaurantes carissimos. Depois de algumas chuvas os surtos de malária
começam, apesar de haver tratamento em geral bastante eficaz. As zonas limpas e sem água parada apresentam menos mosquitos e consequentemente menos casos de malária. Os estrangeiros não são bem vistos, porque há uma idéia desde a época da guerra (pela libertaçao de Angola de Portugal), que estes vêm aqui colonizar. Por outro lado todos gostam de tentar lhes arrancar dinheiro, já que os colonizadores são «os endinheirados». As agressões verbais e os constrangimentos aos «gringos» são constantes, inclusive por parte dos policiais que sempre pedem uma « gazosa ». Porem não há violência e a população em geral não comete delinquencia, roubos, assaltos, etc. É possivel andar com relógio, mochila, tênis de marca e até mesmo trocar dinheiro na rua. De um modo geral as pessoas são fechadas, porém após uns primeiros contatos são mais agradáveis e bastante amistosas.

Como com dinheiro tudo se arranja e quase não há situações às quais os seres humanos não sejam capazes de se acostumarem... para quem tem ancas dá-se a oportunidade de rebolar. Semba, rumba, kilapanga, sungura, ou kuduro a regra é não ficar parado.

Pós Scriptum 1:
O Kuduro O kuduro é uma dança popular (POP) típica angolana, que começou nos anos 90 a partir de uma mistura com o rap e difundiu-se enormente no país. Hoje é um dos ritmos mais conhecidos mundialmente como genuíno ritmo angolano.

Quase-verdade (constitui-se de uma não verdade que também não é mentira)

O kuduro é uma dança que só os angolanos, especiamente os da capital conseguem dançar. Por isso, melhor do que tentar e depois ficar com dor no cú é contratar alguém que faça isso por você. Pode parecer desumano, mas explorar (remuneradamente) a força alheia é uma das formas de exploração legalizada e desenvolvida pelos seres humanos há 5 séculos e é mundialmente aceita.
A melhor atitude de um estrangeiro em Angola, especialmente em Luanda, é contratar um Angolano para fazer o kuduro por si. Comprar alimentos na rua (a preços para angolanos e não para brancos colonizadores), frequentar os mercados paralelos em busca do que for necessário, passar horas no engarrafamento, fazer fila da gasolina, escolher rotas alternativas de trânsito, contratar outros serviços necessários, conseguir documentos, etc etc etc...

*Não que seja perigoso, mas demanda tempo e energia que só quem já tem o corpo (e o cú) preparados consegue sem maiores danos.

*video de Kuduro

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Voltei

Voltei ja faz umas semanas. Nada de novo no front. intenet lenta,  falta de luz, falta de agua, muito calor, doenças, sujeira, lixo, engarrafamento e algumas chuvas que adicionam lodo nas ruas.

As gentes, contudo, andavam mais sorridente por causa do CAN (campeonato africano das naçoes), copa africana de futebol, mas a seleçao nacional ja caiu fora do campeonato e todo mundo ja voltou a fechar a cara.

A praia ta mais animada, afinal sao ferias escolares, é verao, mas nao é temporada de turismo porque isso nao existe aqui.

Por outro lado o assedio aos "brancos" parece mais forte, afinal é ferias e todo mundo quer grana dos "colonizadores" para viver um pouco melhor.

Fora isso, no clima de sauna equatorial, a vida segue seu curso.