OLHAR DE CACIMBO



... porque nenhuma visão é neutra, porque o turvo precisa ser dito, ainda que maldito, antes que se perca em escuridão.










quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Guarda-Chuva

No turbilhão do que chamei de esquizofrenia de grau 3*, essa que nos faz ler tudo por causa da solidão, encontrei uma pergunta que me intrigou: (estava no desopiler da Rosi)

Alguém conhece algum guarda-chuva que proteja a cabeça contra "quando o mundo desaba"?


E eu aqui na áfrica que nunca chove fiquei a me perguntar:

Alguém conhece um guarda-chuva que proteja a cabeça da angústia de que "tudo está suspenso, parece que vai cair no proximo segundo, mas não cai?"

E não adianta me mandarem derrubar de uma vez porque no fundo ninguem quer que caia.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Português d'Angola



E eu que pensava que se falávamos português falávamos todos a mesma língua.

Nada! cada dia tenho que reaprender a usar o português.

O Humpty Dumpty passou por aqui e mudou umas coisas. Ou pelo Brasil, já que o portugues daqui dizem ser mais parecido ao de Portugal.

Vejam...E se quiserer ler em angolês lembrem de ler o A sempre Á (com acento bem aberto, que vou usar aqui para ilustrar o som)

[p.ex. Luãnda não existe, o nome da capital é Luánda] [a palavra não é lida náo]

Casa de bánho é onde se faz xixi, banheiro não existe.

Café e chá se toma na chávena, ninguém sabe o que é xícara.

Se pedir sumo de ananás, beberás um ótimo suco de abacaxi.

Refrigerante quase ninguém sabe o que é, mas se pedir gazôsa trazem logo um refrigerante.

Viatura não é carro de polícia, qualquer carro é uma.

Muámba não é nada ilegal, nem vem do Paraguai, é uma comida feita com galinha

Ônibus não existe, só há cándongueiro e trem é cómboio

Sítio não precisa ser na roça, nem na intenet, qualquer lugar é sítio, e se for na roça se chamará Quinta.

Bazar não é lugar de vender cacarias, é ir-se embora (vou bazar), e nem é gíria, todo mundo fala assim

Bué é gíria, mas todo mundo sabe que quer dizer muito. O dia que chove Bué alaga a cidade inteira.

Miúdo e miúda é qualquer criança ou jovem, pode até ser grande e forte.

Quem quiser lembrar-me de mais algumas palavras por favor enviem contribuições.

domingo, 22 de novembro de 2009

Parque do Kissama, turismo em Angola

Como já falei muitas vezes aqui, em Angola encontramos muitas belezas naturais.

*Obviamente na capital Luanda, dificilmente encontraremos exemplares do que poderiamos chamar beleza, dado as caraterísicas peculiares de uma grande cidade africana, com suas desordens demográficas, sanitárias, de distribuição de renda, de valores globalizantes e sabe-se lá mais quantos fatores que nos fogem a compreensão e que contribuem para que a tal cidade possamos atribuir muitos predicados, menos o da beleza.

Longe de Luanda, há uns 100 Km começa uma grande reserva natural chamada Parque Nacional do Kissama. 

Estive lá sábado passado e fiquei encantada.

Dentro do parque há um restaurante onde se pode comer a comida típica Angolana. Comidinha caseira bem parecida com a galinha de panela e a polenta da minha mãe, que eu comia no Brasil quando era criança.

Coisa básica e boa, funge de milho com galinha de muanba, banana da terra, batata doce, ensopado de peixe a kalulu e feijão com óleo de palma.Uma delícia! e o melhor é que há uma parte externa no restaurante onde se pode apreciar a vista.

Um lindíssimo vale verde e úmido, cheio de vida. Da varanda sente-se o cheiro da brisa de terra úmida do Rio Kuanza que se vé longe lá abaixo, e os olhos se enchem com o colorido dos pássaros, das flores e borboletas. Com sorte, dá até pra visualizar macaquinhos a correr pelas árvores e algumas girafas ou veados ao longe.

O complexo turístico tambem disponibiliza guias e passeios dentro do parque e tem chalés para hospedagem e área para camping.

A pena é que tudo custa bem caro.

Apesar dos estrangeiros que estão em Angola já estarem acostumados com os preços abusivos (comparados com a Europa e com o Brasil p.ex), e não deixarmos de visitar locais assim, ao menos uma vez para conhecer, dificilmente iremos lá duas vezes. Enquanto se fosse barato poderíamos ir todo final de semana.

Isso vale para muitos outros lugares de Angola, são caríssimos mesmo quando são simples_ como é o caso Kissama, que apesar de ser no paraíso serve comida caseira, que todo angolano conhece e come todo dia (exceto os que não conseguem sequer ter comida).

Pros extrangeiros ainda tem sempre os inconvenientes policiais  pedindo documentos e verificando nossas condições de estada nos lugares. Todo estangeiro que está em Angola há algum tempo já se viu forçado a ter que pagar uma gasosa prum polícia lhe deixar em paz ao menos uma vez.

*Isso quando não temos que voltar porque simplesmente os caras não nos permitem o acesso. Pior ainda quando nos levam a departamentos policiais para explicar porque paramos tirar foto dum predio ou praia. É estranho, mas acontece, é como se fossemos espiões a traficar informações.

Pros Angolano tambem é difícil passear e viajar, porque além de tudo ser caro e as familias serem maiores (o que encarece ainda mais), há poucos lugares onde se pode ir de candongueiro (ônibus) ou de comboio (trem). Nos sítios ou se vai de viatura (carro) particular ou não se vai.

Informaçoes sobre o Kissama: 244 925 314 949
 O site estádesatualizado:http://www.kissama.angoladigital.net 

sábado, 21 de novembro de 2009

Um blog sobre Africa

Pra quem lê meu blog já deve ter visto que escrevo cá minhas coisas e também sigo ao lado, à direita na tela, coisitas que outrem escrevem sobre Angola.

Um dos blogs que mais gosto e admiro é o Diário da África. É de uma pessoa que sequer conheço e que além de escrever bem, consegue contar seus dias bons ou nem tanto nesse continente.

Consegue ser conciso (bem mais que eu), imparcial e realista. Por vezes é até divertido, porque tem senso de humor diante de fatos quotidianos, como quando conta os episódios no aeroporto 4 de fevereiro, que é assim mesmo, afinal quem vive isso sabe. Ou quando fala da agressão que sofremos nós os "brancos estrangeiros" nas ruas.

Nunca enche de muita opinião nos posts e nem está embebido de idéias pré-concebidas como "ah angolano é preguiçoso", como já vi nuns blogs de gente que vem aqui tentar mudar o estilo de vida das pessoas; ou outros blogs que trazem informações mas estão tão embebidos de um "bom samaritanismo" que nos fazem pensar que os Angolanos, "ó coitados" são ovelhinhas perdidas nessa selva.

Afinal O blog é ótimo e foi injustamente criticado por alguem, brasileiro (que nunca veio à Angola) porque teria generalizações bobas e infantis e porque só faz criticas críticas. ("as críticas não acabam nunca").

POR FAVOR!!! PODE ALGUÉM SER CRITICADO PORQUE FAZ CRITICAS DEMAIS?

E pior: diz que se ele fosse Angolano estaria chateado com o blogueiro.

Imaginem! tem cabimento uma coisa dessas??? Se alguém critica o país que você nasceu, porque tem um olhar crítico e consegue perceber as "merdas" que ocorrem ali, o cidadão vai ficar chateadinho porque tão criticando o país que ele nasceu.

Isso não é argumento. GOOD, isso é FREAK SHOW.

Os argumentos contra o blog seguem e são tão bizzaros que valeria uma analise lógica detalhada da invalidade e da falaciosidade de cada um. Para ver a crítica na íntegra:  clique aqui

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Imbundeiros em Luanda

Já é mes de novembro. Ando por estas paragens desde agosto e já se foi o cacimbo. O sol escaldante do verão traz a chuva, o verde e esse calor quase insuportável. Os olhos não vêem mais do que com o cacimbo porque tendem a fechar com tamanha luz. A sensação fisica é de que se está dentro de uma gigantesca sauna em forma de cidade.
No cair da tarde, sorrateiro e benevolente, chega um ventinho tão agradável e descabelante que nos faz quase agradecer aos céus pelo fim de mais um dia e pelo refrescor de fim de jornada.

Ah Luanda! essa capital com nome de mulher, tão agradável e prostrada femea, a deixar que diariamente lhe abram valas, lhe perfurem canteiros, lhe introduzam cimento e ferro.

Ah agradável mãe, que deitada à beira do mar agracia os filhos com um sopro fresco em dia de sol, e nem parece reclamar as dores que traz no ventre e os barulhos de buzina que lhe ferem os ouvidos.

Ah querida amante de negros e brancos, prostituta de ontem e de agora, abriu as pernas a portugueses e a nativos e agora, gangrenada, continua a servir: chineses, brasileiros... e a toda gente de qualquer canto por poucos vinténs e por algumas regalias a seus filhos queridos.

Ah mundo estranho. Tanto lixo, tanto esgoto, tanto cancro no leito e na pele de antiga cidade que de perto ainda tem lá seus traços de dama educada e fina de sociedades menos bizaras e brutas como as nossas de agora.

Ah Luanda de outrora, imagino-te com o mesmo mar e o mesmo ventino de final do dia. Sem buzinas, sem assaltos, sem britadeiras e sem ferros e concreto. Será que habitavam Imbundeiros nessa senhoras?

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Choveu em Luanda

Depois do cacimbo, depois da chuva, depois de 3 meses aqui. Agora tudo está iluminado e verde.
Luanda Antes e Depois... da chuva

Antes




 Depois

Antes;
o temporal estava a se formar e o céu ficou escuro, dava pra ver a chuva ao longe que se aproximava


3h da tarde e veio a noite
 




desabou uma chuvona


 

 as ruas ficaram alagadas


 

Daí veio o Sol, e aquela Luz de céu varrido



 e daí em diante tudo ficou verde

Compare o Antes e Depois
da Embaixada dos EUA
Antes...



Depois...




Milagres das águas
A metafísica das chuvas.


domingo, 8 de novembro de 2009

Pôr do Sol Africano

Um dos maiores espetáculos da terra.
O céu pequeno ante o mar,
e o mar é nada ante a força do astro rei.
O céu rasgado em luz,
e a esfera vermelho-alaranjada a esconder-se, delicadamente,
sob os traços horizontais acinzentados do gigantesco oceano Atlântico.
Devagar como quem respira, morre o sol como se deitasse a sesta.




PS: O Álvaro de Campos disse que não há mais metafísica no mundo senão chocolates e o Alberto Caeiro, que era mais radical, disse que não há metafísica alguma, o que há são os sentido, o Ricardo Reis dizia que mais vale ouvir correr o rio e o vento. Salve os poetas Pessoanos. Salve a natureza, o resto...é nada.
Nem chocolates se comparam a esse pôr do sol. É compreensível que todos os deuses sejam feitos de luz. É compreensível que nossos antepassados adorassem esse Deus. É perfeito que a criança de Saint Exupery, quisesse repetir, com um simples afastar da cadeira, tantas vezes o espetáculo.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Revista Caras Angola


É uma das coisas mais bizarras que já vi. Não que as Caras do resto do mundo não seja, já o sabemos. A do Brasil é o "Ó", cheio de mulheres oxigenadas e siliconadas a exibirirem seu sorizos duros emoldurados pelos lábios tesos de butox, o bronzeado artificialézimo e o discurso sempre igual: as solteiras a afirmarem que são felizes e autosuficientes mesmo sozinhas e as casadas a mijarem nas calcinhas ao falar do marido, o grande prêmio de suas vidas.

A Caras de Angola que eu tive o desprazer de ler na sala de espera do dentista falava da belíssima história de amor do cantor Anselmo Ralf (Cantor Angolano romântico).

A história era simples e cheia de jargões preconceituosíssimos de familia, propriedade e romantismo barato. O tal conheceu a esposa através de um amigo, falaran-se durante 1 mês por telefone (já que internet aqui ainda é coisa de outro mundo) e então se conheceram, casaram-se e estão felizes para sempre. Agora ela é a dona do indívíduo e vive num condomínio de luxo no Talantona, que tem até jardim. Como se não bastasse ser a dona do bebezão choroso e famozíssimo, que só aparece de óculos escuros pra não perder a pompa de astro, eles também tem uma filhinha e formam o ideal idealíssimo: a família feliz.

A fulana esposa que é tão bela como o resplandescer da luz da lua, segundo o texto da revista, tem os cabelos alisadíssimos (como toda negra "rica" Angolana),e apesar sa roupa preta de setim brilhoso está visivelmente muitíssimo acima do peso. Complementa a beleza invejável os seus estupendos olhos azuis que lembram o mar de uma lente de contato ímpar, tão falsos quanto as edificações morais oferecidas pela revista.

Já o garanhão Angolano, uma flor de formozura, com seus óculos escuros e camisa aberta no peito, a exibir parte de uma rosa tatuada em vermelho completa o charme pessoal com um sorizo misterioso de um ligueiro prognatismo no queixo.

Ai, deus me perdoe o veneno. Dessa vez não me aguentei. O cacimbo é fumaça de criolinha e está a sair das minhas ventas.  As músicas do gajo é só ver no youtube:  http://www.youtube.com/watch?v=OGuEUIBfJC8&feature=related