Perto da minha nova morada tem um bairro popular. Muitas casinhas de adobe da mesma cor do chão, cobertas com zinco, e muitas crianças e mulheres que andam com bacias na cabeça.
Há ali uma antiga capela portuguesa, deteriorada pelo tempo, por alguns combates e pelo uso, pois no bairro não há quase nada, mas não falta fé.
É nessa capela que uma freira missionária dá aulas de alfabetizaçao para adultos. 3 vezes por semana, por volta das 4 da tarde, ela caminha sob o sol, cumprimentando todos que encontra pelo caminho com seus livros e lapis pronta para se tornar a professora.
A capela não tem bancos nem mesas. As pessoas sentam no chão ou em cadeiras plásticas que elas mesmas trazem e escrevem sobre umas tabuetas que a irmã empresta. O quadro fica guardado na casa de uma das alunas e é pendurado e retirado da parede a cada aula.
Os alunos são mães com crianças à tiracolo que vêm aprender a ler e escrever e tambem aproveitam das brincadeiras que a irmã propõe no intervalo de cada atividade. Quando a brincadeira é cantada, essas mulheres projetam suas vozes para além das frestas da capela e se fazem ouvir no pátio.
No pátio ficam os filhos que já não precisam ser levados nos braços a brincar com outras crianças das redondezas. Destes, nem todos vão à escola e dos que vão muitos deles ainda não aprenderam a ler, ou distinguir as cores, ou sequer sabem seus nomes completos.
EU, encantada pelas criancinhas e impulsinada pela irmã, que muito humildemente me convidou a fazer alguma atividade com os infantes, comecei a dar-lhes "aulas".
Logo no primeiro dia (quando apenas lhes ofereci o desenho de uma flor para pintar) percebi que não podia fazer muito. São muitas crianças, tem idades e níveis escolares muito distintos, não há classes ou cadeiras, ou sequer tijolos para sentar e o sol na cabeça é muito forte. Uma das alunas da irmã, a Vó Verónica ofereceu a sombra de bamboo e palha do pequeno patior cercado se sua casa para as aulas o que ajudou, mesmo assim algumas crinças acabam ficando ao sol, pois a cobertura é pequenina.
O que resolvi então, e o faço agora, é ir uma vez por semana até lá contar histórinhas infantis, l por semana. A mais mostro-lhes algumas palavras, números, desenhos e fotos de animais e detalhes do que conto.
Primeira historinha foi OS 3 PORQUINHOS, já que aqui há tantos porcos, já que é um clássico dos contos infantis, já que assim aprendem os números e a contar até 3 ao menos.
Semana que vem será CHAPEUZINHO VERMELHO, já que há tanto sol, já que muitas usam lenços coloridos na cabeça, já que a maioria das crianças não sabe distinguir as cores.
O lobo das minhas histórias não é o LOBO MAU, é só um lobo, que tambem será conhecido a partir de livros de biologia na proxima aula. O lobo das minhas histórias só persegue porque tem fome, e tambem nunca morre, só foge assustado. A moral das minhas histórias é sempre a mesma: Pra ler essas historias através dos livros é preciso ir à escola.
Eu só espero que Angola tenha escolas pra todas essas crianças (afinal dinheiro não é problema, como sabemos, Angola é um país financeiramente privilegiado em África)
O MAIS IMPRESSIONANTE é que no meio da contaçao, percebi que não só as crianças de dentro do pátio tinham vindo ouvir, havia um senhor que mudou a cadeira pra mais perto da cerca pra ouvir tambem. Do outro lado, mais umas jovens tambem se aproximaram.
domingo, 21 de fevereiro de 2010
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Vi. Conta conta e conta história, estória, conta.
ResponderExcluirE a tua, continua.
Nossa!!! estou arrepiada. Que trabalho lindo (gostaria muito de estar lá,também fazendo contação). O processo de ensinar primeiro precisa nascer no coração para depois partir para os lábios.Parabéns para vc e a irmã ,vcs estão polindo pérolas.A contação é para todas as idades. A contação é pura magia enfim e viver intensamente.
ResponderExcluirPois é. E eu que nem sou muito boa em contação, nem pensava ser muito teatral. Mas as crianças sao incriveis e o novo se apresenta como um desafio empolgante, como voce diz, algo vem de dentro de toma os làbios. Obrigada pelas leitura e se voce pensa em vir à Africa venha. Parece que hà parceria entre Brasil e Porto Principe para alfabetizadores. Seguirei com as historias.
ResponderExcluirGi querida, conto conto e conto, pode deixar, parece que foi o que me foi reservado.
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