OLHAR DE CACIMBO



... porque nenhuma visão é neutra, porque o turvo precisa ser dito, ainda que maldito, antes que se perca em escuridão.










terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Viver em Luanda

6 meses depois

Viver em Luanda nao é nada fácil, isso eu já disse e parece estar bem claro nas minhas postagens anteriores. O segredo é que é preciso esforço e algum «rebolado» para se safar nesta cidade. E no final o que era ruim, já não parecerá tanto.

Resumidamente: A cidade é enorme, cheia de habitantes e não há estrutura alguma para tal. Estão construindo em todos os cantos da cidade (estradas, pontes, edificios, ...) o que torna certos trajetos caóticos e as vezes impossiveis. Quando chove, e ainda bem que chove pouco, muitos locais ficam alagados ou cheios de lama e desencadeia mais caos. Há locais privelegiados, com água, luz e um pouco de limpeza, assim como estabelecimentos comerciais higienizados. Consequentemente eles custam exessivamente caros por constituirem um privilégio que poucos podem acessar. Como todos precisam de certas coisas (roupas, alimentos, eletronicos, automoveis, peças...) e o acesso legal a tal não é possivel dentro da estrutura existente, há, paralelamente, um mercado imenso e eficaz. Coisa que só descobrimos com o tempo e que para acessar é melhor contar com a ajuda de um nativo. Porem, contrariamente ao que se poderia pensar, não há violência ou bandos (gungs) delinquentes organizados.

Retrato em detalhes: não ha abstecimento de água, luz e esgoto a toda a populacão. Mas é possivel comprar, há prestadoras particulares de energia que oferecem isso em certos bairros onde a rede pública não chega. Tambem há geradores de energia à venda em muitas lojas e o combustível é barato. Porém há filas nas bombas de combustivel. Não há transporte público rápido e eficiente e as ruas são esburacadas e engarrafadas. O transporte pelas vans (candongueiro) não costuma ser seguro, os carros são velhos e os motoristas não cumprem leis de segurança e velocidade. Os ônibus são poucos, demorados, mas mais baratos. Os engarrafamentos são diários e intermináveis. Carro próprio se torna a melhor forma de locomoção (tambem é sinal de status social, ja que o mínimo aqui é muito). Não há muitas lojas e lanchonetes com condições sanitárias regulares, o que obriga a população a comer na rua os alimentos ali confeccionados sem higiene, muitas vezes feito em meio a galinhas, porcos e, especialmente, resíduos sólidos e líquidos esverdeados e fétidos que escorrem pelo chão. Há restaurantes e lanchonetes (caríssimas) apenas em certas regiões da cidade. A coleta de lixo não funciona eficientemente e nos musseques e bairros pobres, a própria populaçao escolhe um terreno e ali deposita seus resíduos: em valas (antigos rios) , beira de estradas e barrancos. Não há consciência anbiental e é comum as ruas e praias conter lixo, inclusive cacos de vidro deixados pelos banhistas. Tambem não há lixeiras na praia, nem mesmo na Ilha do cabo, considerada turística e cheia de restaurantes carissimos. Depois de algumas chuvas os surtos de malária
começam, apesar de haver tratamento em geral bastante eficaz. As zonas limpas e sem água parada apresentam menos mosquitos e consequentemente menos casos de malária. Os estrangeiros não são bem vistos, porque há uma idéia desde a época da guerra (pela libertaçao de Angola de Portugal), que estes vêm aqui colonizar. Por outro lado todos gostam de tentar lhes arrancar dinheiro, já que os colonizadores são «os endinheirados». As agressões verbais e os constrangimentos aos «gringos» são constantes, inclusive por parte dos policiais que sempre pedem uma « gazosa ». Porem não há violência e a população em geral não comete delinquencia, roubos, assaltos, etc. É possivel andar com relógio, mochila, tênis de marca e até mesmo trocar dinheiro na rua. De um modo geral as pessoas são fechadas, porém após uns primeiros contatos são mais agradáveis e bastante amistosas.

Como com dinheiro tudo se arranja e quase não há situações às quais os seres humanos não sejam capazes de se acostumarem... para quem tem ancas dá-se a oportunidade de rebolar. Semba, rumba, kilapanga, sungura, ou kuduro a regra é não ficar parado.

Pós Scriptum 1:
O Kuduro O kuduro é uma dança popular (POP) típica angolana, que começou nos anos 90 a partir de uma mistura com o rap e difundiu-se enormente no país. Hoje é um dos ritmos mais conhecidos mundialmente como genuíno ritmo angolano.

Quase-verdade (constitui-se de uma não verdade que também não é mentira)

O kuduro é uma dança que só os angolanos, especiamente os da capital conseguem dançar. Por isso, melhor do que tentar e depois ficar com dor no cú é contratar alguém que faça isso por você. Pode parecer desumano, mas explorar (remuneradamente) a força alheia é uma das formas de exploração legalizada e desenvolvida pelos seres humanos há 5 séculos e é mundialmente aceita.
A melhor atitude de um estrangeiro em Angola, especialmente em Luanda, é contratar um Angolano para fazer o kuduro por si. Comprar alimentos na rua (a preços para angolanos e não para brancos colonizadores), frequentar os mercados paralelos em busca do que for necessário, passar horas no engarrafamento, fazer fila da gasolina, escolher rotas alternativas de trânsito, contratar outros serviços necessários, conseguir documentos, etc etc etc...

*Não que seja perigoso, mas demanda tempo e energia que só quem já tem o corpo (e o cú) preparados consegue sem maiores danos.

*video de Kuduro

3 comentários:

  1. igual a muitos paises do mundo este pais passou por muito, familias foram destruidas e sem extrutura de civilizaçao,o conceito de familia e respeito ficou totalmente desfalcado pelos jovens que nesta altura se tornaram adultos, pensando somente no hoje e nunca no amanha. quando houve a guerra para a independencia de angola o conceito era destruir para reconstruir e com isso foram por agua abaixo toda a educaçao e estrutura fisica e mental de muitos angolanos graças a deus aos poucos o pais esta a ser reconstruido e espero que como investimento pessoal cada um faça a sua parte para que no futuor os nossos filhos já jovens ou adultos possam passar para outros educação, civismo, amor ao proximo, ajudando sem pedir nada em troca
    pelo menos é assim que eu penso
    um abraço

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  2. Realidade essa vivida por mim ano passado e retrasado, para uma pessoa que vive na metrolope de São Paulo acostumada com cultura de multinacionais e conceitos como os do 5'S onde o Japão a anos já fala em 10'S, Luanda não sabe nem o 1'S, mas pela retrospectiva em minha estada lá, a cidade está até melhor em alguns aspectos, o que não digo que falta muito para melhorar, posso dizer que vivi de aventuras nessa minha extensão da mionha carreira profissional, em menos de 2 anos passei por 3 empresas de muitas que acabam aparecendo, por decisão acertada resolvi não retornar a Angola, tenho como lição aprendida que precisamos nós ajudar mutuamente e sei mais do que nunca que devo ajudar meu Brasil primeiramente e sei que posso contribuir muito aqui, não que os países estrangeiros não mereçam ajuda, mas agora sou mais patriota do que antes tenho realmente orgulho de ser brasileiro e poder ajudar meu país e o nosso povo, volto a repetir não só a Luanda mas a todos os países do planeta precisam de ajuda, mas para isso precisam querer ser ajudados...... Fica a lição de um povo feliz e sorridente apesar de toda a difucldade que passam, são ricos não falta nada em termos de recursos naturais, mas enquanto o governo não melhorar a distribuição de renda, escolas e faculdades, hospitais e etc faltará sempre decadas para nivelamento e comparação a um país como o Brasil e nos que o digam com relação ao considerados primeiro mundo...

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  3. Nossa... eu estava com vontade de morar em Luanda, não sei mais não...

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