OLHAR DE CACIMBO



... porque nenhuma visão é neutra, porque o turvo precisa ser dito, ainda que maldito, antes que se perca em escuridão.










terça-feira, 23 de março de 2010

Skinheads em Angola

Em 2 episódios:

Episodio 1

Tarde ensolaradíssima e aquecidíssima de quinta-feira em Caxito. 30 graus de temperatura e 70 por cento de umidade no ar. Sensação de sauna e sentimento de sede de chuva e de noite, pois quando o sol se vai já não consegue aquecer este vapor que emerge das entranhas da terra arenosa.

Na escola, (a qual estou ligada oficialmente por trabalho formal e que nunca falei aqui ainda por motivos de “ética profissional”) 4 ou 5 jovens alunos são expulsos da sala pelo professor. Dirigidos à sala da direção, para aí serem melhor orientados, explicam a causa da explusão:

Trazem os cabelos mal dispostos, bagunçados, e compridos demais.

Descrição dos Alunos: Jovens negros, de idade entre 17 e 20 anos, e nenhum deles com cabelo maior que 1cm e meio de cabelo crescido para além da cabeça.

OBSERAVAÇÃO: A escola não contém nenhuma regra oficial sobre roupa, cabelo, etc, além de um bata branca que os alunos utilizam no interior do recinto. Toda exigência partiu particularmente do professor que reproduz a cultura local, sobretudo a cultura do partido (o do presidente , “socialista”, e que todos que pretendem ou têm algo na vida integram).

Episodio 2

Fim da tarde de sexta-feira, já quase sem sol e com um pouco de vento. A sensação de sauna já se foi e o sentimento de liberdade para respirar toma o peito. Já não há aulas na escola e o Sr. guarda senta-se, ali mesmo no pátio, para fazer sua toilette. Com uma bacia d’água e uma navalha (gillete) diretamente manipulada com a mão (sem qualquer aparelho barbeador) executa sua tarefa de eliminação dos pelos.

Raspa, igualmente, a barba, toda a superfície da cabeça e as sobrancelhas.

OBSERAVAÇÃO: O Sr. Guarda se chama Sozinho (de nome oficial no bilhete de identidade), pois quando nasceu morreu-lhe a mãe. Quem se encarregou dele deu-lhe o nome e a sentença. Soldado sobrevivente da guerra, hoje resta-lhe a profissão de guarda. Trabalha para uma empresa de segurança privada o ano inteiro, sem férias. Vive uma semana no local do trabalho (atualmente na escola) e a cada 15 dias ganha uns dias de folga, os quais passa em casa em Luanda com a família que formou.

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