6 meses depois
Viver em Luanda nao é nada fácil, isso eu já disse e parece estar bem claro nas minhas postagens anteriores. O segredo é que é preciso esforço e algum «rebolado» para se safar nesta cidade. E no final o que era ruim, já não parecerá tanto.
Resumidamente: A cidade é enorme, cheia de habitantes e não há estrutura alguma para tal. Estão construindo em todos os cantos da cidade (estradas, pontes, edificios, ...) o que torna certos trajetos caóticos e as vezes impossiveis. Quando chove, e ainda bem que chove pouco, muitos locais ficam alagados ou cheios de lama e desencadeia mais caos. Há locais privelegiados, com água, luz e um pouco de limpeza, assim como estabelecimentos comerciais higienizados. Consequentemente eles custam exessivamente caros por constituirem um privilégio que poucos podem acessar. Como todos precisam de certas coisas (roupas, alimentos, eletronicos, automoveis, peças...) e o acesso legal a tal não é possivel dentro da estrutura existente, há, paralelamente, um mercado imenso e eficaz. Coisa que só descobrimos com o tempo e que para acessar é melhor contar com a ajuda de um nativo. Porem, contrariamente ao que se poderia pensar, não há violência ou bandos (gungs) delinquentes organizados.
Retrato em detalhes: não ha abstecimento de água, luz e esgoto a toda a populacão. Mas é possivel comprar, há prestadoras particulares de energia que oferecem isso em certos bairros onde a rede pública não chega. Tambem há geradores de energia à venda em muitas lojas e o combustível é barato. Porém há filas nas bombas de combustivel. Não há transporte público rápido e eficiente e as ruas são esburacadas e engarrafadas. O transporte pelas vans (candongueiro) não costuma ser seguro, os carros são velhos e os motoristas não cumprem leis de segurança e velocidade. Os ônibus são poucos, demorados, mas mais baratos. Os engarrafamentos são diários e intermináveis. Carro próprio se torna a melhor forma de locomoção (tambem é sinal de status social, ja que o mínimo aqui é muito). Não há muitas lojas e lanchonetes com condições sanitárias regulares, o que obriga a população a comer na rua os alimentos ali confeccionados sem higiene, muitas vezes feito em meio a galinhas, porcos e, especialmente, resíduos sólidos e líquidos esverdeados e fétidos que escorrem pelo chão. Há restaurantes e lanchonetes (caríssimas) apenas em certas regiões da cidade. A coleta de lixo não funciona eficientemente e nos musseques e bairros pobres, a própria populaçao escolhe um terreno e ali deposita seus resíduos: em valas (antigos rios) , beira de estradas e barrancos. Não há consciência anbiental e é comum as ruas e praias conter lixo, inclusive cacos de vidro deixados pelos banhistas. Tambem não há lixeiras na praia, nem mesmo na Ilha do cabo, considerada turística e cheia de restaurantes carissimos. Depois de algumas chuvas os surtos de malária
começam, apesar de haver tratamento em geral bastante eficaz. As zonas limpas e sem água parada apresentam menos mosquitos e consequentemente menos casos de malária. Os estrangeiros não são bem vistos, porque há uma idéia desde a época da guerra (pela libertaçao de Angola de Portugal), que estes vêm aqui colonizar. Por outro lado todos gostam de tentar lhes arrancar dinheiro, já que os colonizadores são «os endinheirados». As agressões verbais e os constrangimentos aos «gringos» são constantes, inclusive por parte dos policiais que sempre pedem uma « gazosa ». Porem não há violência e a população em geral não comete delinquencia, roubos, assaltos, etc. É possivel andar com relógio, mochila, tênis de marca e até mesmo trocar dinheiro na rua. De um modo geral as pessoas são fechadas, porém após uns primeiros contatos são mais agradáveis e bastante amistosas.
Como com dinheiro tudo se arranja e quase não há situações às quais os seres humanos não sejam capazes de se acostumarem... para quem tem ancas dá-se a oportunidade de rebolar. Semba, rumba, kilapanga, sungura, ou kuduro a regra é não ficar parado.
Pós Scriptum 1:
O Kuduro O kuduro é uma dança popular (POP) típica angolana, que começou nos anos 90 a partir de uma mistura com o rap e difundiu-se enormente no país. Hoje é um dos ritmos mais conhecidos mundialmente como genuíno ritmo angolano.
Quase-verdade (constitui-se de uma não verdade que também não é mentira)
O kuduro é uma dança que só os angolanos, especiamente os da capital conseguem dançar. Por isso, melhor do que tentar e depois ficar com dor no cú é contratar alguém que faça isso por você. Pode parecer desumano, mas explorar (remuneradamente) a força alheia é uma das formas de exploração legalizada e desenvolvida pelos seres humanos há 5 séculos e é mundialmente aceita.
A melhor atitude de um estrangeiro em Angola, especialmente em Luanda, é contratar um Angolano para fazer o kuduro por si. Comprar alimentos na rua (a preços para angolanos e não para brancos colonizadores), frequentar os mercados paralelos em busca do que for necessário, passar horas no engarrafamento, fazer fila da gasolina, escolher rotas alternativas de trânsito, contratar outros serviços necessários, conseguir documentos, etc etc etc...
*Não que seja perigoso, mas demanda tempo e energia que só quem já tem o corpo (e o cú) preparados consegue sem maiores danos.
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video de Kuduro