OLHAR DE CACIMBO



... porque nenhuma visão é neutra, porque o turvo precisa ser dito, ainda que maldito, antes que se perca em escuridão.










quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Angola, fim de assaltos, conjecturas de Nocaute I

Economia; sociedade; Dinheiro; pensamentos, conjecturas e conjecturas...


Não consigo saber ao certo o porquê de aqui tudo ser tão caro. Fico a imaginar como foram os anos pós colônia portuguesa, os combates, o comunismo, a presença dos sovieticos e cubanos (Hoje estão os portugueses, franceses, chineses, americanos e brasileiros). Penso na diferença entre essa política e a o capitalismo declarado. Fico a imaginar como os angolanos compreendem sua própria história. O que se aprende na escola, o que mudou e o que mudará com tanto ¨progresso¨. Talvez a história explique muito da agressividade dos gestos e palavras dos transeuntes. A tristeza no rosto da mulheres. A negação aos estrangeiros, a necessidade incontrolável de pedir dinheiro. Fico a me indagar como é se sentir como nação depois de tantos conflitos. Porque o custo de vida é tão alto se a guerra deixou tantos pobres? Tento compreender, bebo em fontes angolanas _ estou a ler ONDJAKI, ótimo escritor conta sobre o país e seu povo_ Eu tenho minhas conjecturas. Penso que como a maioria das coisas ainda é importada, tudo tenha um valor acrescido pelo transporte, pela importação, pelo atravessamento comercial, etc. etc. Também sabe-se que há poucos serviços, hotéis, pousadas, restaurantes, bares, supermercados, lojas, de nível razoável (de limpeza, de condições visuais menos destruídas, sem pulgas, moscas, mosquitos, ratos...) o que faz com que haja uma supervalorização do pouco que existe.
Quando penso nas contradições que envolvem essa nação, um país riquissimo (com un dos mais altos PIBS da Africa, cheio de petroleo e diamantes) e com uma distribuição tão desigual, (gente que vive com menos de 1 dólar por dia). Me parece natural, diante do quadro, que eu não consiga sair às ruas sem ser assediada por pobres pedintes, vendedores de tudo e de nada, loucos pelo meu dinheiro mesmo que eu não o tenha. Não deixo de me sentir insegura numa sociedade como tal, e não é porque o cidadão angolano tenha uma tendencia a delinquência (como até poderiamos considerar certos brasileiros no Rio de Janeiro, ou em Salvador, lugares turísticos e com problemas de distribuição de renda, que usam da malandragem para enrolar o estrangeiro e ganhar algum), mas porque somos os ricos locais e, supostamente, o que lhes daremos como esmola jamais nos fará falta. Se somos estrangeiros, frequentamos um hotel, comemos num restaurante, compramos em supermercados, somos, obviamente, pessoas com muito dinheiro e, certamente, poderemos ajudá-los. Espera-se que a reconstrução do país poderá fazer o custo de vida baixar, assim como está aumentando o número de empregos, escolas, hospitais, ou seja, está (esperamos) melhorando o país. Ao menos esse é o discurso que se vende e se doa aos quatro cantos do mundo.


Contudo parece que a diferença social se firma, não apenas na carência dos meios, mas em outras questoes proprias de nossas sociedades atuais, a saber, a superrvalorização dos produtos para estabelecer as diferenças de poder, para marcar território, para mostrar quem pode e quem não pode _ É uma fetchização das mercadorias para usar termos bem clássicos de uma escola de pós-marxistas_ Por exemplo, as roupas aqui são um absurdo de caras. Uma camisa qualquer vendida na rua, custa 3000 kuanzas, ou seja, uns 35 dólares, coisa que na europa custaria 8, no máximo 15 e não venderiam na rua. E isso determina muito bem quem usa roupas, sobretudo sociais, e quem anda com as camisetas amareladas pelo tempo e pelo pó.

Um comentário:

  1. não deve ser fácil pra vc suportar esse novo status social, ainda mais enxergando toda essa pobreza em volta.

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