OLHAR DE CACIMBO



... porque nenhuma visão é neutra, porque o turvo precisa ser dito, ainda que maldito, antes que se perca em escuridão.










quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Angola, fim de assaltos, conjecturas de Nocaute III

UM POUCO DE HISTÓRIA
Angola já foi comunista, agora é socialista aberta, se é que se podem aplicar rótulos. O governo atual de Angola é representante de um partido socialista, o mesmo que fazia o comunismo no país na década de 90. O mesmo que ganhou a guerra civil que houve por aqui, que durou de 1975 até 2002 e destruiu o país inteiro, ou o pouco de país que havia sido construído pelos portugueses. Trata-se do MPLA (Movimento pela libertação de Angola). A guerra se deu sob o pano de fundo da guerra fria e quem teria financiado o MPLA seria a Rússia e seus apoiadores, mais colaboração das tropas cubanas. 
Sabemos que a história e os detalhes de uma guerra mostram mais meandros que essa mera simplificação. Que no limbo das engrenagens políticas de um país, crescem fungos e ferrugens que sequer tomamos conhecimento se olhamos para a fotografia distante da grande máquina a funcionar. Sabemos que grandes potências financiando guerras em pequenos países pobres do sul do globo são uma lenda clássica que nos contam na escola quase como as história de bruxas, de monstros, de mocinhos e bandidos. No final, contada assim, a ideia de que a historia é uma ciência, com critérios certos, repetitiva e linear quase que nos convence por completo. 
Como não podia ser diferente, a historia daqui também tem um Simón Bolívar, um Nelson Mandela, um Ghandi, ..., um libertador nacional e nacionalista. Trata-se do senhor Agostinho Neto, poeta e herói nacional, condecorado pela única universidade pública do país, que leva seu nome e homenageado todos os dias por todos os cantos da nação através de quadros com sua fotografia de olhar sério e sonhador por trás de grandes óculos de aros grossos que adornam as paredes de escolas, hospitais, prefeituras e estabelecimentos públicos. No dia 17 de setembro, a comemoração é especial, feriado nacional para lembrar seu aniversário de nascimento. 
Foi o primeiro presidente do país, o fundador do partido, o idealizador da independência, aquele que lutou por Angola durante as guerrilhas e morreu de cirrose hepática, durante tratamento na Rússia, como um bom comunista poderíamos pensar todos, imaginando que o álcool estaria sempre presente nas exaustivas votações de pautas, de orçamentos, de projetos, etc., etc., durante os processos democráticos aos quais sempre se submeteriam todos os marxistas verdadeiros. Porém há outras versões para sua morte, como a de envenenamento, porque já começava a abrir o país pra conversas com outras nações, inclusive ao Tio Sam. 
Hoje, seu mausoléu na cidade de Luanda é digno dos grandes monumentos mundiais, como a estátua da liberdade e a Torre Eiffel. Seus companheiros de partido continuaram a luta e discursam para que sua memória e seus ideais não sejam esquecidos. Dirigem a nação de modo legítimo e internacionalmente aceito desde o acordo de paz que selou o fim da guerra em 2002. A guerra foi ganha através do último acordo tácito de paz contra o movimento, então enfraquecido, UNITA (União nacional para independência total de Angola) que hoje é um partido político secundário sem a mínima representatividade, cujos principais representantes da luta no passado estão mortos. Eu não virei especialista em história, principalmente de Angola claro, nem tenho clareza suficiente pra opinar sobre nada, mas confesso que fico tão intrigada com certas peculiaridades do que vejo que me incita pesquisar sobre o que de fato acontece. A volta do sonho ingênuo cientificista: “Até que o sol não brilhe, acendamos uma vela na escuridão” ( Confúcio). Até que passem os dias de cacimbo.



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