OLHAR DE CACIMBO



... porque nenhuma visão é neutra, porque o turvo precisa ser dito, ainda que maldito, antes que se perca em escuridão.










quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Imbundeiros em Luanda

Já é mes de novembro. Ando por estas paragens desde agosto e já se foi o cacimbo. O sol escaldante do verão traz a chuva, o verde e esse calor quase insuportável. Os olhos não vêem mais do que com o cacimbo porque tendem a fechar com tamanha luz. A sensação fisica é de que se está dentro de uma gigantesca sauna em forma de cidade.
No cair da tarde, sorrateiro e benevolente, chega um ventinho tão agradável e descabelante que nos faz quase agradecer aos céus pelo fim de mais um dia e pelo refrescor de fim de jornada.

Ah Luanda! essa capital com nome de mulher, tão agradável e prostrada femea, a deixar que diariamente lhe abram valas, lhe perfurem canteiros, lhe introduzam cimento e ferro.

Ah agradável mãe, que deitada à beira do mar agracia os filhos com um sopro fresco em dia de sol, e nem parece reclamar as dores que traz no ventre e os barulhos de buzina que lhe ferem os ouvidos.

Ah querida amante de negros e brancos, prostituta de ontem e de agora, abriu as pernas a portugueses e a nativos e agora, gangrenada, continua a servir: chineses, brasileiros... e a toda gente de qualquer canto por poucos vinténs e por algumas regalias a seus filhos queridos.

Ah mundo estranho. Tanto lixo, tanto esgoto, tanto cancro no leito e na pele de antiga cidade que de perto ainda tem lá seus traços de dama educada e fina de sociedades menos bizaras e brutas como as nossas de agora.

Ah Luanda de outrora, imagino-te com o mesmo mar e o mesmo ventino de final do dia. Sem buzinas, sem assaltos, sem britadeiras e sem ferros e concreto. Será que habitavam Imbundeiros nessa senhoras?

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