OLHAR DE CACIMBO



... porque nenhuma visão é neutra, porque o turvo precisa ser dito, ainda que maldito, antes que se perca em escuridão.










segunda-feira, 2 de maio de 2011

Viagem por Angola VI - De Luciara a Namibe

Amanhecemos em LUCIRA. (ver: Viagem por Angola V(Viagem por angola VII)

O mar parecia um espelho de águas calmas, o cheiro de peixe envadia as narinas e as crianças faziam alvoroço com suas bacias (banheiras) coloridas envolta de uma torneira de agua doce quase na saída da cidade.

Não ficamos aí muito tempo, levantamos acampamento e logo partimos para NAMIBE.

Mais ou menos na altura de onde se vê uma placa branca no fundo, estava a torneira d'agua, e onde começa montanha já começa o caminho para sair da pequena cidade

Sobre Lucira ainda quero dizer que foi a uma das cidade mais lindas que conheci. Porque? não sei exatamente. Talvez porque era romantica demais pra ser real. Talvez porque sei que nunca mais voltarei aí, nesse fundo de precipicio à beira de mar, nessa ilha entre mar e montanha, cidadezinha esquecida no tempo e no espaço.


  

O caminho para Namibe foi longo, EM VERMELHO (e a volta a Luanda foi por Lubango, que falarei no proximo post, caminho azul)

A paisagem era linda. Trechos de estrada em construção, muito pó, poeira, seca, semi-deserto, as vezes surgia um pequeno foco de verde, um grupo de pessoas longe reunidos perto alguma árvore... montanhas de areia, um mundo cada vez mais deserto, a terra cada vez mais cheia de nada. 




 A quantidade de verde diminuia quilômetro a quilômetro, o deserto aumentava, as almas vivas pelas quais cruzávamos eram cada vez mais raras.

Depois depois de horas de deserto (com poucos arbustos absolutamente secos) voltamos a ver o mar, de longe, depois de um penhasco. Aí havia uma aldeia:


E no alto, quase na beira da estrada, havia uma ruína de uma igreja

Mais adiante outras casa, talves outra comuna (aldeia) tambem perto do mar


Depois dessas pequenas aglomerações de casas, a visão de um oásis. Um vale verde banhado por um rio que chegava no mar (o nome da cidade eu não me lembro, porque não paramos aí).

Esta motocicleta foi o único veículo (que me lembro) ter passado por nós neste trajeto.
Passado o Oásis, a paisagem desértica voltou paulatinamente. Os últimos vilarejos pelos quais passamos ainda traziam algumas plantas rasteiras algumas plameiras verdes.

E depois deles, foram horas e horas e horas de sol, areia e raríssimos arbustos espinhentos.... Já estávamos acostumados com essa ausencia, inclusive de ar (porque o calor estava cada vez mais forte), quando nos deparamos com uma gigantesca CORUJA (chamo assim, mas acho que era algum tipo de águia, bubo bubo, não sei classificar esses pássaros)


O apareceimento dessa criatura foi quase que o anúncio do desespero. Porque esperávamos encontrar uma vila, uma cidade, um lugar para comprar água e gasolina. Trazíamos menos de meio litro de água para duas pessoas e o deserto e o calor só aumentavam. Andávamos sem acondicionamento de ar para economizar combustível, e os proximos 50km foram tensos e de espectativa.

De repente, quando já nossas bocas estavam secas e os corpos pediam mais que molhar os lábios com o restinho de água que trazíamos. Vimos uma MIRAGEM: um contentor de navio transformado em lanchonete, no meio daquele nada. Tinha um grande painel vermelho dizendo: STOP. Logo depois de nós chegou um taxi (Hiace, Candongueiro) vindo de NAMIBE, cheio de gente sedenta que, como nós, tomou coca-cola e muita água.

parecia um Bagdá Café, inclusive eu não teria me espantado se tivesse surgido uma mulher a servir café com uma térmica amarela. O impressionte é que não se via nenhum sinal de casa ou qualquer tipo de habitação por ali. (Vale lembrar tambem que não tinha WC e que os homens que deceram do taxi foram todo para trás da lanchonete fazer xixi)


Naquela mesma tarde chegamos a NAMIBE. Cidade de Praia, de porto, de orla para as familias e os esportistas caminharem e super-desenvolvida.

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