OLHAR DE CACIMBO



... porque nenhuma visão é neutra, porque o turvo precisa ser dito, ainda que maldito, antes que se perca em escuridão.










quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Angola, fim de assaltos, conjecturas de Nocaute II


Economia; sociedade; Dinheiro; pensamentos, conjecturas e conjecturas... 
 

O que me deixa pessoalmente impressionada é que me sinto uma rica aqui._ Não por ficar num hotel, que isso me faria rica no Brasil também, afinal sempre que viajo fico em barraca, em pousadinhas, ou, o que é o melhor: na casa dos amigos._ Por frequentar um barzinho e tomar uma cerveja nacional, que por sinal custa 3 vezes mais no barzinho que na rua ou nalguma loja ou mercado. Por ir ao dentista, entao, sou uma milhonária. São coisas tão básicas que a população em geral não tem acesso. 
 
Segundo a TV local, que é do governo, começa a haver consultorios odontológicos e clínicas públicas para a população. Eu até acredito e não duvido. Mas sabe aquela sensação que todos temos no Brasil de que se ficarmos doentes, a menos que seja uma doença gravíssima, se consegue um posto de saúde, consegue uns exames, uns remédios? Aqui não parece existir. Aquela sensaçao de que se não for um caso especial, conseguimos parcelar um dentista. Aqui não me parece assim. 
As pessoas são desdentadas. Vi moças novas com cáries visíveis nos dentes da frente. Não as ricas, claro. Não as que usam camisa e saia secretária, que andam de saltinho do carro até a entrado do local de trabalho e depois deste até as suas casas. Por outro, mesmo as desdentadas tem os cabelos alisados ou com aplique de mega hair, com tranças africanas perfeitas, que são feitos na rua ou em casa com cabelo artificial. 
 
São diferenças, sei que não há cultura de escovar os dentes, sei que isso não se chama cultura, se chama educação. Na verdade não tem água direito, muito nenos escova e creme dental. Imagino que as escovas não sejam tão caras, tem gente que as vende na rua, bem mais barato que nos mercados e ainda há os mercados populares, os roque santeiros, onde deve ser mais barato ainda. Só que pra quem quase não tem comida, para quem tem 7 ou 8 filhos, são muitas escovas, não há condições, não vejo como inserir esse tipo de educação. Fazer mega hair deve ser mais fácil, uns fazem nos outros e assim vão treinando para de repente fazer nalgum rico (como eu). 

As pessoas me interrogam quase todos os dias sobre o que é isso que tenho nos dentes. Tem gente que acha que é adorno, como quem coloca dentes de ouro. Eu quase não sorrio na rua porque é vizivel que os olhares interrogativos se dirigem para minha boca com o aparelho ortodôntico. 

Eu me interrogo o tempo inteiro, fico aqui com as minhas filosofices, meus pensamentos sobre a justiça, sobre os tais sentidos das coisas, sobre minhas direções... No final não entendo. Fico é mais filosófa do que antes, filosofia de boteco, ao modo de Sócrates: quanto mais conheço mais sei que desconheço. Depois ao Chico Buarque: ... a filosofia, hoje me auxilia a viver indiferente assim... vou fingindo que sou rico... 

Um comentário:

  1. Eu tô amando ler o que você escreve! Poderia até virar um livro...aliás quantas discussões e filosofices suas, minhas, nossas poderiam virar livros rs.

    bem, não imaginava que o aparelho era algo tão incomum assim por aí. chocante!

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